Critico de cinema, Rubens Ewald Filho, morre aos 74 anos
Rubens Ewald estava internado desde maio, depois de desmaiar em um shopping em São Paulo.
Adicionar legenda |
O crítico de cinema Rubens Ewald Filho morreu
nesta quarta-feira, aos 74 anos. Ele estava internado no Hospital
Samaritano, em Higienópolis, região central de São Paulo, desde maio, quando
sofreu um desmaio num shopping da capital e caiu na escada rolante.
Dono de uma memória prodigiosa , ele impressionou milhões de telespectadores, ano após ano, durante a transmissão da cerimônia do Oscar , quando enfileirava os nomes de uma infinidade de artistas ligados ao cinema, bem como seus vastos currículos.
Para o público
brasileiro, uma das grandes atrações do Oscar ,
além do resultado em si, era conferir a inesgotável cultura cinematográfica de
Rubens por meio de comentários não “apenas” enciclopédicos como marcados por
tom pessoal inconfundível – conforme evocado no livro “O Oscar e eu” (2003).
'Dicionário de cineastas'
A projeção
alcançada por Rubens se deve ao seu perfil comunicativo e ao trânsito por
diversas mídias – jornais, rádios, emissoras de televisão. Vale lembrar que
registrou seu extenso conhecimento em muitos livros, popularizados como sólidas
fontes de consulta, a exemplo de “Os 100 melhores filmes do século 20”, “Os 100
maiores cineastas” e, principalmente, “Dicionário de cineastas”.
“'Eu carrego
uma bandeira de amor ao cinema e sou um entusiasmado. O cinema sempre foi um
grande companheiro, que nunca me abandonou. Ele nos ajuda a viver e a sonhar'”
RUBENS EWALD FILHO
Em entrevista de 2011
A versatilidade
de Rubens fica comprovada na variedade de funções que exerceu ao longo
do tempo. Na crítica, terreno em que obteve maior repercussão, escreveu sobre
os lançamentos em salas de cinema e também em vídeo, DVD e TV. Levou seu
patrimônio cinematográfico para a Globo, Cultura e o mundo da TV por assinatura
(HBO, Telecine, TNT). Esteve à frente de alguns dos mais relevantes festivais
de cinema do Brasil – como consultor do Projeto Paulínia Magia do Cinema / Polo
de Cinema e curador dos
festivais de Gramado e Paulínia.
Ator em 'Amor,
estranho amor'
Parece bastante, mas
ele fez bem mais. Acumulou experiência em outros setores. Dirigiu montagens teatrais –
como “Hamlet-Gasshô”, apropriação da peça de William Shakespeare, “Querido
mundo”, de Miguel Falabella, e “O amante de Lady Chatterley”, de D.H. Lawrence.
Trabalhou, raramente, como ator – em “Amor, estranho amor” (1982), de Walter
Hugo Khouri.
Escreveu
roteiros de dois filmes: “A árvore dos
sexos” (1977), em parceria com Carlos Alberto Soffredini, Eugênia de Domênico e
Mauricio Rittner; e “Elas são do baralho” (1977), com Roberto Silveira e
Adriano Stuart, dirigidos por Silvio de Abreu. Com ele, aliás, assinou a novela“Éramos
seis”, adaptação do livro de Maria José Dupré, exibida no SBT.
Não parou por aí:
colaborou, de maneira significativa, para a preservação da memória ao assumir a
coordenação geral da Coleção
Aplauso , composta por biografias de atores e diretores e
publicações de roteiros.
Anotações de cada
filme em cadernos
Nascido em Santos, em
1945, Rubens não demorou a se interessar por cinema. Duas revistas o
sensibilizaram particularmente: "Filmelândia" e
"Cinelândia". Desde os 11 anos, anotou em cadernos cada filme que
viu, escrevendo os títulos e as informações básicas. Transitou por áreas
distintas — Administração e Direito —, enfrentando, em casa, a oposição a
seu desejo de trabalhar com cinema, profissão, contudo, que terminou ajudando
no sustento familiar.
Seja como
for, o cinema se manteve em primeiro plano. Foi seduzido pelas produções a que
assistiu na juventude, considerando as décadas de 1950 e 1960 como as mais
promissoras. Recebeu influência de críticos como Moniz Vianna, Sérgio Augusto
e, posteriormente, Rubem Biáfora.
“No fundo,
todo crítico quer ser amado. Mas ou você faz uma crítica honesta ou escreve
para ser amado. Polêmica sempre deu leitura, mas o trabalho do crítico é ser
honesto e destrinchar o filme para o público que vai ao cinema”
RUBENS EWALD FILHO
Sobre o papel do crítico
Além do
Oscar, também comentou o Globo de Ouro e o prêmio do Sindicato dos Atores dos
EUA.
'Cinéfilo que não existe mais'
Comentarista
do Oscar na TV Globo nos últimos anos, Artur
Xexéo resume por que o colega exercia a função de maneira
exemplar:
—
Identificar os atores que aparecem no palco do Oscar não é muita vantagem. Isso
vem no roteiro. Mas ele era craque mesmo. Sabia dizer quem eram e conhecia os
currículos de todos os atores que apareciam na homenagem aos mortos de cada
ano. Isso não está em roteiro nenhum.
Para Xexéo,
Rubens refletia o cinema de seu tempo.
— Um tipo de
cinéfilo que não existe mais, apaixonado por um cinema que não existe mais.
Tornou-se uma referência como comentarista — diz o jornalista e colunista do
GLOBO. — Sem ele, a crítica de cinema fica menos divertida.
Não há como
resumir os feitos de Rubens Ewald Filho em poucas linhas, mas, de certo modo,
uma expressão é suficiente para sintetizar toda a sua trajetória: paixão pelo
cinema.
Nenhum comentário