Matéria especial da revista Rolling Stones retrata os 24 momentos que mudaram a história do rock
Uma linha do tempo que se inicia em 1950 até os dias atuais.
Elvis Presley foi o rei - ainda é? Depois vieram Beatles, do iê-iê-iê à
psicodelia. Rolling Stones, Led Zeppelin, Pink Floyd, o sonho começou e
chegou ao fim. Veio o peso do heavy metal, com Black Sabbath, surgiu o Metallica, o punk surgia das
sarjetas de Nova York e chegava à Inglaterra. O Queen criou uma identidade
própria e se consagrou quando o rock se uniu no Live Aid, evento criado para
levar atenção do mundo à fome na África.
Cada transformação do rock reflete de uma
sociedade sempre mutante. Das
guerras aos períodos de paz, tensões raciais, à pobreza, o desemprego, a falta
de esperança adolescente. Há quase 70 anos é assim. E possivelmente,
nas próximas sete décadas também, mesmo
que vez ou outra alguém teime em dizer que o rock morreu.
Reunimos aqui os 24 momentos que transformaram o
rock e a forma como a humanidade ouvia esse som sempre carregado, elétrico,
dançante ou reflexivo. Vamos?
1) Quando Elvis Presley se
tornou o Rei do Rock
Talvez o rock não precisasse de um rei, mas eram os
anos 1950, os Estados Unidos via o som elétrico chegado e Elvis Presley era tudo o que a
sociedade conservadora da época aceitava. Galã, penteado certo, dono de um
requebrado próprio e boa voz. Elvis emendou um hit atrás do outro entre 1956 e
1957, como “Heartbreak Hotel”, “Hound Dog” e “Don’t Be Cruel”, e foi coroado e
transformado no arquétipo de como qualquer artista do rock deveria se
comportar.
2) Os Beatles invadem os
Estados Unidos
Ainda antes de se tornar um fenômeno mundial no
início daquele década de 1960, o quarteto vindo de Liverpool representou o
sentimento de euforia que a juventude norte-americana precisava. Em novembro de
1963, John F. Kennedy havia sido assassinado e luto durou até janeiro do ano
seguinte, quando John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr
desembarcaram nos Estados Unidos. Depois que "I Want Hold Your Hand"
chegou ao topo das paradas, ninguém mais seria capaz de deter os Beatles e a nova Beatlemania.
3) Bob Dylan eletrificou o
folk
É interessante pensar que Bob Dylan era um grande fã de rock na
adolescência. Na adolescência, ele foi seduzido, por assim dizer, pelo folk
político e panfletário que fazia a cabeça dos jovens que não curtiam o iê-iê-iê
dos Beatles. Dylan se tornara o grande nome desse folk na briga contra o pop
comercial. Incomodado com isso, o bardo fez o que ninguém imaginava. Em 25 de
julho de 1965, ele eletrificou o folk acompanhado pela Paul Butterfield Blues
Band em um festival deliberadamente dedicado à música folk em Newport. Os
puristas se sentiram traídos, mas Dylan se agigantou ainda mais.
4)
Os Rolling Stones e a juventude insatisfeita
Os Rolling Stonesainda estavam longe
da aclamação que viria nos próximos anos, mas, em 1965, os devassos Keith
Richards e Mick Jagger criaram um dos seus primeiros e maiores hinos. Keith
Richards acordou com um riff na cabeça, mostrou para Jagger e pronto. Estava
criada "(I Can't Get No) Satisfaction, uma ode à insatisfação que tantos
jovens sentiam, com transgressão e rebeldia.
5)
A surf music chega à vida adulta com 'Pet Sounds'
Os Beach Boys eram os maiores
nomes da surf music, definitivamente. Tinham um bom punhado de canções good
vibes, “Surf in’ U.S.A.”, “I Get Around” e “California Girls”, que traziam
aquele frescor de brisa marinha, sol, praia e carros potentes. Brian Wilson,
líder e compositor do grupo, sofreu um ataque nervoso, parou de excursionar com
a banda e passou a escrever sobre ansiedade e carência - embora tivesse acabado
de se casar. Tudo isso se tornou Pet Sounds, um dos maiores e mais influentes
discos de todos os tempos, de 1966.
Wilson, inspirado pelos Beatles para
criar Pet
Sounds, acabou influenciando os garotos de Liverpool a fazer Revolver,
lançado naquele mesmo ano.
6)
O mundo não estava preparado para o Velvet Underground
A verdade é que o Velvet Underground talvez
tenha criado, sem querer, o termo "indie raiz". Porque possivelmente
apenas uma centena de pessoas deve ter ouvido o álbum Velvet Underground &
Nico, lançado em 1967, com a famosa ilustração de banana de Andy Warhol
estampada na capa.
Era um álbum sobre perversões, vício em drogas,
com o submundo de Nova York, em um momento no qual a euforia ainda tomava conta
da música mainstream. Ninguém ouviu na época, mas o grupo de Lou Reed, por fim,
se tornou uma das principais referências daquilo que viria a ser chamado de
rock alternativo.
7)
Beatles mostraram ao mundo seu potencial máximo
Quando surgiram, nem mesmo os Beatles imaginavam até onde
eles poderiam chegar. Saíram do pop pós-adolescente do início da década e, na
segunda metade dos anos 1960 eles beiraram a genialidade, com álbuns como
Rubber Soul (1965) e Revolver (1966). Ninguém poderia esperar - nem eles, de
certo - que a seguir viria Sgt.
Pepper’s Lonely Hearts Club Band, lançado em 1º de junho de 1967.
Com altas doses de lisergia e cores, o disco se aproximava dos acontecimentos
sociais, políticos e culturais do Verão do Amor.
8)
Bem-vindos à opera, com o rock do The Who
Talvez o gênero de ópera rock não seja tão popular
nos dias de hoje, mas naquele ano de 1969, o rock havia se tornado um gênero
cada vez mais estilizado e poderoso. Deixou de ser um instrumento de dança,
depois de rebeldia e, posteriormente, voz política. O gênero se aprimorava em
harmonias e narrativas. Embora os britânicos The Pretty Things já tivessem
criado uma ópera rock em 1968, com S.F. Sorrow, o The Who levou esse
sub-gênero para outro lugar, com Tommy, no ano seguinte. Pete Townshend criou
uma genial narrativa espiritual sobre um garoto cego, surdo e mudo que se
tornara campeão de fliperama.
O rock chegava à idade adulta, por assim dizer,
pela primeira vez, sendo apresentado em casas de ópera.
9)
Woodstock entrava para a história
Toda a euforia do rock desde a sua criação, nos
anos 1950, chegou ao auge com o festival Woodstock. O Monterey Pop
Festival abriu as portas para os mega-festivais, mas ninguém esperava que 500
mil pessoas poderiam se reunir, de forma harmônica, pelos campos da cidade de
Woodstock, nos Estados Unidos.
Nem mesmo a lama, a chuva e a comida escassa foi
capaz de tirar frear os ânimos do público. Foram apresentações icônicas ali, de
gente como Santana, Jimi Hendrix (que entrou no palco na manhã do dia 18),
Crosby, Stills, Nash & Young, Joe Cocker, Joan Baez, Janis Joplin, Sly
& the Family Stone e The Who.
10)
O fim do sonho com os Stones e a tragédia de Altamont
Assim como Woodstock se tornou, historicamente, o
momento máximo da força da contracultura e do rock, pouco depois, ainda em
1969, o sonho começou a ruir com a tragédia no Festival de Altamont.
Os Rolling Stones estavam em alta e, depois de uma
bem-sucedida turnê pelos Estados Unidos, decidiram fazer um show gratuito em Altamont
Speedway, na Califórnia, no dia 6 de dezembro.
Mas deu tudo errado, a celebração se tornou um
pesadelo e Meredith Hunter, um jovem negro de 19 anos, acabou assassinado pelos
Hells Angels, clipe de motoqueiros que faziam "a segurança" do show a
poucos metros do palco dos Stones. Era o fim da utopia.
11)
Das sombras, surgia o Black Sabbath e o heavy metal
Acho que vocês já perceberam que o rock opera em
ciclos, de momentos de euforia à melancolia. Pois com o fim da utopia dos anos
1960, veio a desesperança. Da cidadezinha de Birmingham vinha um rock mais
pesado do que grupos como Deep Purple e Steppenwolf já haviam sinalizado.
Ninguém chegou perto das sombras que o disco Black Sabbath, o primeiro da banda de
mesmo nome, foi capaz de fazer. Os riffs de Tony Iommi eram sinistros, os
vocais de Ozzy Osbourne, assustadores. Surgia o heavy metal.
12)
Na contramão do heavy metal, o rock progressivo
O rock psicodélico visto no final dos anos 1960
evolui para outra frente. Enquanto o heavy metal era o contraponto de tudo
aquilo que a lisergia pregava, o rock progressivo era seu passo adiante.
Pink Floyd e Moody Blues já lançavam discos ainda
na segunda metade da década de 1960, mas o início da década seguinte trouxe uma
inundação e novas bandas do sub-gênero, com bandas como Emerson, Lake &
Palmer, Yes e Genesis vivendo momentos de ápice criativo.
13)
A ressaca acabou, veio o glam e David Bowie
John Lennon havia dito que o sonho havia acabado.
E, de fato, aquele acabou. Mas depois do luto, aos poucos, o rock se
reencontrava. David Bowie tentou
desesperadamente fazer sucesso nos anos 1960, iniciando uma carreira no folk.
Mas embora "Space Oddity" tenha sido um marco, ele se transformou, de
fato, em um herói do gênero quando colocou maquiagem, pintou o cabelo de
laranja e criou o personagem Ziggy Stardust, em 1972.
Foi um estouro, Bowie se tornou uma estrela
mundial e, um ano depois, matou Ziggy, o alienígena roqueiro de sexualidade
indefinida. O rock conheceu a purpurina, a maquiagem e o caráter teatral das
apresentações. Kiss, New York Dolls e até Alice Cooper se inspiraram a partir
de Ziggy.
14)
Os deuses do rock têm um nome: Led Zeppelin
Eles tinham a pegada pesada, mas não eram sombrios
como o Black Sabbath. O Led Zeppelin foi criado a partir das cinzas do
supergrupo Yardbirds para ganhar o mundo, com o guitarrista Jimmy Page e o
empresário Peter Grant.
Criticados no início, os Zeppelin seguiram
lançando discos poderosos até o álbum Led Zeppelin IV, em 1971, que trazia
"Stairway to Heaven", "Rock and Roll" e "Black
Dog", todos clássicos. O disco seguinte, Houses of the Holy, de 1973,
criou ainda mais expectativa sobre a nova turnê dos britânicos pelos Estados
Unidos.
Todos os ingressos daquela tour foram vendidos em
menos de quatro horas, um feito inimaginável. O rock tinha novos deuses. E era
o quarteto que formava o Zeppelin.
15)
Das cinzas do Velvet Underground, o punk surge
A movimentação musical criada por Velvet
Underground na cena underground de Nova York fomentou outras bandas a surgirem
por ali. Eram jovens desempregados, alguns até de famílias ricas, que juntavam
alguns trocos para beber e vadiar pelas ruas de lower Manhattan.
Aconteceu entre julho e agosto de 1975 um evento
chamado Festival of New York’s Top 40 Unrecorded Rock and Roll Bands, cujo
título já é bastante autoexplicativo, em uma casa de shows conhecida como CBGB,
em Nova York. Ali tocaram Blondie, Talking Heads, Television e Ramones. Todos
se conheciam das noitadas e criavam uma cena efervescente. O punk e a new wave
estavam prontos para ganhar a América.
16)
Queen mostra a força do videoclipe
O Queen tinha relativa força em 1975. Em 1975,
eles mostraram que dominavam o jogo do rock, muito além do caráter musical. A
espetacular canção "Bohemian Rhapsody" também ganhou um videoclipe
que se mostrava anos-luz a frente do resto da produção capenga de vídeos de
rock até então.
Dirigido por Bruce Gowers, o vídeo mostrou Freddie
Mercury e o restante do Queen para o mundo e foi fundamental para que a música
seja, até hoje, uma das mais populares da história do rock. Depois disso, vídeo
e música se tornaram parceiros inseparáveis.
17)
A rebeldia "fabricada" dos Sex Pistols
O punk havia "pegado" Nova York de
jeito. E o empresário, artista visual e agitador Malcolm McLaren percebeu ali
uma oportunidade de negócio e tanto.
Porque o punk vinha na contramão do glam rock
espalhafatoso da época, na segunda metade dos anos 1970. McLaren reuniu jovens
que pregavam essa anarquia de ideais sob o nome de Sex Pistols.
A sociedade inglesa, conservadoríssima, ficou
horrorizada, enquanto os jovens filhos da classe trabalhadora viram nos Pistols
a transformação das suas angústias em música. Em 1977, foi lançado o single
"God Save the Queen", um título debochado para uma canção que chamava
a rainha Elizabeth II de fascista.
18)
O indie rock começa a se formar com R.E.M.
O punk apresentou o formato de carreira do
"faça você mesmo" que, aos poucos, chegou aos jovens que não estavam
necessariamente interessados no som cru e em colocar suas vísceras para fora em
forma de canção.
Era possível ser independente, sem se curvar às
forças das gravadoras, sim. E o surgimento do R.E.M., om o single "Radio
Free Europe", lançado em julho de 1981, mostrava como esse esquema
independente poderia funcionar.
19)
A MTV invade a América em 1981
Esse não é um momento crucial só para o rock, mas,
sim, para a música de forma geral. A Music Television estreou em 1º de agosto
de 1981 e mudou a forma como a música deveria se relacionar com o público. O
Queen já havia mostrado a importância do videoclipe, e a MTV foi responsável
por levar esses vídeos para o mundo todo.
20)
O thrash metal contra-ataca com o Metallica
De novo, o rock vive em ciclos e em forças
opostas. O heavy metal estava melódico, com artistas com vocais agudos que se
aproximavam dos cantores de ópera, portanto, o Metallica chegou para acelerar e
poluir as coisas um pouco.
Não foram os desbravadores do thrash metal, porque
grupos como Slayer e Anthrax já traziam essa pegada de speed metal, mas a
repercussão do disco Kill 'Em All, de 1983, não havia acontecido com os
antecessores.
21)
O Live Aid coroa o Queen e mostra o lado bom do rock
O ano de 1985 marcou um retorno do rock às
questões mundanas, digamos assim, mas não necessariamente nas suas letras.
Diversos artistas do pop se juntaram para cantar o single beneficente "We
Are The World" e, em julho daquele ano, o cantor Bob Geldolf estreou o
Live Aid, um concerto realizado em duas apresentações simultaneamente, na
Inglaterra (No Estádio de Wembley, em Londres) e nos Estados Unidos (no Estádio
John F. Kenney, na Filadélfia). Toda a renda dos dois eventos era destinada à
população da África.
Embora tenha apresentado shows espetaculares, o
Live Aid também ficou marcado pela performance do Queen, agora eternizada pelo
filme Bohemian Rhapsody.
22)
Jovens e selvagens: o Guns N' Roses chega ao estrelato
O glam de Bowie havia se transformado, o hard rock
absorveu as influências do heavy metal e, de repente, estávamos diante do hair
rock e do hair metal. A MTV já mostrava sua força e os roqueiros cabeludos,
loiros e boa aparência ganhavam rotação na emissora.
Nenhum deles foi tão poderoso quanto Axl Rose e o
Guns N' Roses. Ao lado de Slash, Axl estabeleceu um novo padrão de roqueiro
encrenqueiro. O disco Appetite for Destruction foi lançado em 21 de julho de
1987, o rock ganhou dois icônicos bad boys e voltou a ter a atenção da
garotada.
23)
Nirvana e o último grande ícone do rock
Na contramão de tudo o que as cabeleiras de Axl
Rose e o Guns N' Roses pregava estava o jovem tímido e angustiado Kurt Cobain.
Inspirado pela barulheira de Black Sabbath e Melvins, Kurt e Nirvana surgiam
como uma força alternativa aos bad boys que estavam sempre na MTV.
O Nirvana era mais cru, mais profundo, e pegou a
molecada de jeito. Com o disco Bleach, de 1989, o grupo fez um relativo
sucesso, mas ninguém poderia esperar o estrondo que foi o disco seguinte do
grupo, já com Dave Grohl nas baquetas. Nevermind e o single "Smells Like
Teen Spirit" bagunçaram o jogo, porque Kurt e companhia eram
anti-comerciais, conseguindo rios de dinheiro.
24)
O rock não morreu e o Strokes pode provar
A velocidade com a qual Julian Casablancas e o The
Strokes surgiu e foram coroados foi assustadora. A era da internet havia
chegado ao rock. Todos queriam saber qual seria apróxima grande banda e
Casablancas era esse vocalista desleixado e perfeito para o papel.
Os Strokes bebiam da fonte do Velvet Underground e
do punk que veio depois. Usavam do "faça você mesmo" do R.E.M. e
desprezavam as instituições, tal qual o Nirvana.
De Nova York, os Strokes foram primeiro celebrados
do outro lado do oceano, na Inglaterra, graças à globalização da informação
graças ao ambiente da web.
O quinteto realmente impulsionou uma nova onda no
rock, se tornando referência para outras bandas importantes para o rock do novo
milênio, como Arctic Monkeys e The Libertines.
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