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‘Se não puder ter filtro, extinguiremos a Ancine’, disse Bolsonaro


Bolsonaro voltou a afirmar que pretende transferir a Agência Nacional do Cinema do Rio para Brasília e reforçou que o governo quer controlar o conteúdo da agência.



O presidente Jair Bolsonaro voltou a falar nesta sexta-feira (19) sobre a intenção de transferir a Ancine, a Agência Nacional do Cinema, do Rio de Janeiro para Brasília. Ele disse que pretende impor algum filtro nas produções audiovisuais brasileiras. A informação provocou críticas de cineastas e o temor de censura.

A declaração do presidente Bolsonaro foi durante uma solenidade em comemoração ao Dia Nacional do Futebol, em Brasília. Ele voltou a afirmar que pretende transferir a sede da Agência Nacional do Cinema, do Rio para a capital federal.

Falou que ainda não decidiu se a Ancine vai permanecer no Ministério da Cidadania ou se será transferida para outra área, mas reforçou que o governo quer controlar o conteúdo da agência.

“A cultura vem para Brasília e vai ter um filtro sim, já que é um órgão federal. Se não puder ter filtro, nós extinguiremos a Ancine. Privatizaremos, passaremos. Não pode é dinheiro público ser usado para filme pornográfico”.

O presidente foi questionado sobre qual filtro desejaria impor à Ancine, que regula, fomenta e fiscaliza o mercado do cinema e do audiovisual no Brasil.

“Culturais. Temos tantos heróis no Brasil e a gente não fala desses heróis no Brasil, não toca no assunto. Temos que perpetuar, fazer valer, dar valor a essas pessoas que, no passado, deram a vida, se empenharam para que o Brasil fosse independente lá atrás, fosse democrático e sonhasse com um futuro que pertence a todos nós”.

Na quinta-feira (18), o presidente Bolsonaro já tinha falado da intenção de tirar a Ancine do Rio.

“Vamos trazê-la para Brasília. Não somos contra quem tem essa ou aquela opção, mas o ativismo não podemos permitir em respeito às famílias. É uma coisa que mudou com a chegada do governo”.

A declaração de filtrar o trabalho da agência foi vista com preocupação entre representantes da indústria cinematográfica. Eles temem que haja censura. Para o cineasta Cacá Diegues, a classificação de idade já é um filtro suficiente.

“A maneira de proteger as famílias brasileiras já existe, que é censurar os filmes: proibido até 18 anos, proibido até 14 anos, e livre. Ninguém vai ver filme pornográfico com seu filho de 14, 12 anos, 10, 18 anos, não vai ver”.

“Tentar destruir, através da censura ou através da extinção simples de órgãos, destruir o processo que foi montado de produção, que hoje emprega 300 mil pessoas no Brasil, pelo menos, eu acho um desastre”, disse Jorge Peregrino, presidente da Academia Brasileira de Cinema.

“Sou alguém que faz parte de um conjunto de três mil empresas de audiovisual que geram 300 mil empregos. Nós não somos uma coisa que será destruída com um sopro, muito menos a Agência Nacional de Cinema. Vamos ter calma e tratar as coisas como elas realmente merecem, com rigor jurídico, legal, institucional”, declarou a produtora audiovisual Mariza Leão.

“Quero acreditar que, em 2019, num país democrático, num regime democrático, isso não seja verdade. Não queira se fazer uma censura, porque aí a gente já está automaticamente afirmando que não é mais um país democrático”, afirmou Leonardo Edde, presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Audiovisual.

Outra decisão do governo também repercutiu entre os profissionais do cinema e do audiovisual. Jair Bolsonaro decidiu reduzir a participação de representantes da indústria cinematográfica e da sociedade civil no Conselho Superior do Cinema, que é o órgão responsável por elaborar a política nacional para o setor.

De acordo com o decreto publicado na quinta-feira no Diário Oficial da União, o Conselho Superior de Cinema foi transferido da estrutura do Ministério da Cidadania para a Casa Civil.

O decreto reduziu de seis para três o número de representantes do setor e de três para dois os da sociedade civil. O número de membros do governo também diminuiu de nove para sete.

O conselho, que antes tinha representatividade igual entre todos os setores, passa a ter sete ministros e cinco integrantes de fora do governo.

“Desperdiça, dentro do conselho, a oportunidade de ter opiniões de gente que trabalha dentro da atividade, de modo geral, pode ser em cinema, em televisão, o audiovisual de um modo geral”, disse Peregrino.

Só em 2017, mais de 17 milhões de pessoas foram ao cinema para assistir a filmes nacionais. No último festival de Cannes, o Brasil ganhou dois prêmios. Além de premiada, uma indústria rentável.

“A indústria gera para o país quase 0,5% do PIB. A Condecine foi criada para isso. É uma taxa que incide sobre cada distribuição de cada obra que é exibida em cada janela no país. Ele cria um círculo virtuoso que volta para a própria indústria. Então, não existe nenhum acesso ao orçamento do governo para se produzir hoje”, afirmou Leonardo Edde.

“Eu lhe garanto que eu nunca vi na minha vida um momento tão fértil, tão maravilhoso como estamos vivendo hoje no cinema brasileiro. Um cinema cheio de diversidade, com a mesma diversidade do país, diversidade de geração, diversidade de idade, de religião.

Acho isso um excesso de participação do estado no cinema. Não é isso que a gente quer”, disse Cacá Diegues.


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