Presidente da OAB será investigado pela PGR a pedido de Moro
Santa Cruz teria dito que Moro "banca o chefe de quadrilha" ao propor destruição de mensagens apreendidas pela Polícia Federal.
O
ministro da Justiça,Sergio
Moro , pediu nesta quinta-feira que a procuradora-geral da
República, Raquel
Dodge , investigue o presidente da Ordem dos Advogados do
Brasil ( OAB ),Felipe Santa Cruz ,
por suposto crime de calúnia .
O crime teria sido cometido quando Santa Cruz disse que Moro "banca o
chefe de quadrilha" nas investigações sobre o hacker suspeito de invadir
aplicativos de celulares do ministro e de outras autoridades.
"Atribuir falsamente ao Ministro da Justiça
e Segurança Pública a condição de chefe de quadrilha configura em tese o crime
de calúnia do art. 138 do Código Penal", disse Moro, numa representação
enviada à Dodge. Para o ministro, caberá a Procuradoria-Geral apurar o caso e
"solicitar as providências necessárias voltadas à responsabilização"
de Santa Cruz. Com o pedido de investigação de Moro aumenta a pressão do
governo contra o presidente da OAB.
Há duas
semanas, o presidente Jair Bolsonaro atacou Santa Cruz .
Numa entrevista, Bolsonaro chegou a dizer que, se Santa Cruz quisesse, ele
contaria como o pai do advogado, um militante de esquerda, foi morto durante a
ditadura. Nesta semana, a Petrobras rompeu um contrato de trabalho com o
presidente da OAB .
O embate
com Bolsonaro e Moro teve início no mês passado. Numa entrevista publicada pela
Folha de S. Paulo em 26 de julho, Santa Cruz disse que Moro "usa o cargo,
aniquila a independência da Polícia Federal e ainda banca o chefe de quadrilha
ao dizer que sabe das conversas de autoridades que são investigadas".
Santa
Cruz teria feito a declaração com base na informação de que Moro telefonou para
autoridades para avisar que as mensagens capturadas pelos hackers de Araraquara
e depois apreendidas pela Polícia Federal seriam destruídas em nome da
privacidade das vítimas das invasões. O ministro da Justiça está entre as
autoridades que tiveram aplicativos hackeados. Moro teria tratado do assunto
com várias pessoas, entre elas o presidente do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), João Otávio de Noronha.
"Extrai-se
do texto (reportagem da Folha) menção explícita pelo presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil, Sr. Felipe Santa Cruz, a suposta unidade de desígnios
entre este subscritor e outros indivíduos com o objetivo de cometimento de
ilícitos, o que configura imputação falsa de fato definido como crime
–especificamente de associação criminosa, ex vi do art. 288 do Código
Penal", escreveu Moro.
O
ministro disse ainda que não é verdade que teve acesso ao conteúdo de mensagens
registradas nos aparelhos eletrônicos apreendidos pela PF no inquérito sobre os
supostos hackers, conforme teria dito Santa Cruz.
"Ademais,
o comentário repercutiu na esfera subjetiva deste subscritor, em seu sentimento
e senso de dignidade e decoro, visto que também sugere uma conduta arbitrária
no exercício das relevantes funções de Ministro de Estado e Segurança Pública,
de ingerência e interferência na Polícia Federal, acarretando também a
tipificação nos crimes de injúria e difamação", acrescentou.
Na
representação, Moro informa a procuradora-geral que decidiu pedir investigação
depois de receber da consultoria jurídica do ministério a indicação de que a
conduta de Santa Cruz poderia ser enquadrada nos tipos penais "de calúnia,
injúria e difamação, com o que estou de acordo, além de consignar que o teor da
manifestação repercutiu, efetivamente, sobre a minha honra subjetiva".
Procuradoria-Geral
repassa pedido para primeira instância
O pedido
de Moro mal chegou na Procuradoria-Geral e foi encaminhado à Procuradoria da
República no Distrito Federal. Segundo auxiliares de Raquel Dodge, Santa Cruz
não tem foro especial, portanto, cabe à primeira instância decidir se abre ou
não investigação contra o presidente da OAB.
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