Jovem que foi torturado por roubar chocolates em supermercado de São Paulo vai para abrigo. Cenas fortes
Ariel de Castro, do Conselho de Direitos Humanos, diz que será feito pedido de inclusão dele no Programa de Proteção de Crianças e Adolescentes Ameaçados.
O adolescente, de 17 anos, filmado sendo chicoteado e torturado por seguranças do supermercado da rede Ricoy foi encaminhado, nesta sexta-feira (6), para um abrigo da Prefeitura da cidade de São Paulo. A família do jovem se sentiu ameaçada e, por isso, será feito pedido de inclusão no Programa de Proteção de Crianças e Adolescentes Ameaçados (PPCAAM).
Segundo informações do Ariel de Castro Alves, do Conselho Estadual de Direitos Humanos, a medida pretende proteger o adolescente.
Um vídeo que circulava nas redes sociais mostrava a agressão praticada com fios elétricos por dois seguranças em unidade da loja Avenida Yervant Kissajikia, Zona Sul da capital paulista. O jovem, que teria furtado chocolates, apareceu nu, com as mãos amarradas e a boca amordaçada nas imagens.
O encaminhamento do adolescente para o abrigo do município foi acompanhado pelo Conselho Tutelar da Cidade Ademar e pelo Centro de Referência da Assistência Social (Creas). A Vara da Infância e Juventude de Santo Amaro acompanha o caso.
O adolescente estava morando com um dos irmãos, que concordou com o acolhimento dele em um abrigo.
“O pai do adolescente morreu no começo do ano e a mãe, conforme relatos da família, sofre de alcoolismo e não foi localizada até este sábado (7)”, disse Ariel de Castro Alves.
Seguranças
Davi de Oliveira Fernandes e Waldir Bispo dos Santos tiveram prisão decretada — Foto: Reprodução |
A polícia de São Paulo prendeu na tarde desta sexta-feira (6) um dos seguranças suspeitos de chicotear e torturar o adolescente.
Nesta tarde, Davi de Oliveira Fernandes, conhecido como Neto, foi preso em uma ação conjunta entre a Polícia Civil e a delegacia de capturas. Ele foi levado para o 80º Distrito Policial (DP), onde foi ouvido, depois passou por exame no IML e, em seguida, levado para o 2º DP.
Na segunda-feira (9) Davi de Oliveira Fernandes será ouvido pelo delegado que preside o inquérito e deve passar por reconhecimento pelo rapaz de 17 anos.
O adolescente disse que o caso ocorreu no mês passado e que foi a terceira vez que os mesmos seguranças o agrediam por furto de chocolate. Segundo ele, embora o vídeo tenha 40 segundos, a sessão durou 40 minutos. O rapaz mora na rua desde os 12 anos e já passou pela Fundação Casa.
A pena para um crime de tortura pode variar de 2 a 8 anos de prisão.
Ministério Público
O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) informou que a Promotoria de Direitos Humanos vai apurar práticas de tortura na rede Ricoy de supermercados.
O inquérito civil instaurado nesta sexta vai apurar as práticas de tortura contra o adolescente e a violação de direito fundamental, a responsabilidade da empresa em violação de direitos humanos, o dano moral e social difuso e coletivo.
A investigação destaca duas ocorrências nas lojas: no último dia 1º de julho, na unidade da Avenida Yervant Kissajikian, e contra uma pessoa que também teria sido torturada e amarrada a um corrimão por tentar furtar alguns gêneros alimentícios e de higiene pessoal.
O inquérito fala de um possível terceiro episódio de tortura psicológica contra uma criança, que vai igualmente ser apurado.
Para os promotores Anna Trotta Yaryd e Eduardo Valério, “as ocorrências demonstram que as empresas violam direitos humanos fundamentais, consistente na prática sistemática de tortura, em suas dependências, por intermédio de seus agentes de segurança diretos ou indiretamente contratados”.
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