42 agrotóxicos são liberados pelo governo federal sem passar por testes na União Europeia
Um recorde no Brasil desde a posse de Bolsonaro
Plantação de soja no Brasil Foto: Michel Filho / Agência O Globo |
O Ministério da Agricultura autorizou
a utilização de 42 novos agrotóxicos no Brasil,ampliando o recorde de pesticidas liberados pelo
governo federal neste ano. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União
(DOU) nesta segunda-feira (24).
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aqui e leia mais: Estudo mapeia as dez empresas que dominam o mercado de
agrotóxicos no mundo
Ao todo, a pasta
liberou 239 novos agrotóxicos no país
desde janeiro. Segundo o ministério, boa parte das substâncias segue fórmulas
que já estão no mercado — apenas uma delas nunca havia sido introduzido no
Brasil—, e a medida visa aumentar a concorrência.
Na lista, há itens
que já foram banidos pela União Europeia e vários definidos como "muito
perigosos para o meio-ambiente" pelo próprio governo.
Em abril, a
ministra da Agricultura , Tereza
Cristina (DEM), atribuiu as liberações recordistas neste ano a critérios
"técnicos" que eram barradas em governos anteriores por conta de
"processo ideológico".
Oficialmente, a pasta
defende a autorização do uso destas novas fórmulas para “aumentar a
concorrência e baratear custos” dos agrotóxicos ,
enfatizando que os produtos são fórmulas “genéricas” de princípios ativos já
produzidos no Brasil.
A engenheira
agrônoma e porta-voz do Greenpeace, Marina Lacôrte, diz que a
regulamentação dos agrotóxicos autorizados
neste ano ignora bases cientificas:
— Não há
produtos novos ou que nunca tinham sido liberados
antes, com exceção de um, mas há muitas combinações novas,
que podem ter efeitos diferentes e que ainda não foram estudadas. A patente é
quebrada e outras indústrias passam a produzir — explica Lacôrte. — Há,
ainda, produtos que serão descontinuidados em breve por serem muito
tóxicos (na avaliação do governo), mas foram liberados com novas marcas.
Sem teste
O novo agrotóxico introduzido
no Brasil, segundo a ONG, não foi sequer testado na União Europeia, seria muito
tóxico e prejudicial aos animais aquáticos. Chamado de Florpirauxifen-benzil,
ele não consta no cadastro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
O Greenpeace
estima que 30% dos agrotóxicos liberados desde janeiro já
foram vetados no bloco europeu. O crescimento no número de produtos no país
começou em 2016, mas aumentou consideravelmente desde a posse do novo governo,
apoiado pela bancada ruralista.
O governo já
atendeu a 440 outros pedidos de registro de agrotóxicos , que
ainda precisam passar por etapas burocráticas até a liberação.
— O
cliente da Anvisa e do Ministério do Meio Ambiente é a sociedade, não as
empresas. Claro, elas são também parte do processo. Ninguém está falando
em parar de usar agrotóxicos da noite para o dia. Isso é impossível. Mas
estamos pedindo políticas públicas voltadas para esse problema — defende a
porta-voz da ONG. — O agronegócio conta com o retorno econômico, tratado com
muito orgulho pelo setor, mas deixa de fora a contaminação de água, que não
pode ser mais aproveitada, e a do solo. Isso inviabilizará a produção a longo
prazo.
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