Bolsonaro pretende 'dominar' a ANCINE, para que o seu governo controle a aprovação de filmes, séries e documentários.
Atualmente, Ancine tem sede no Rio de Janeiro, mas pode ser transferida para Brasília.
O presidente Jair Bolsonaro reduziu pela metade
a participação de representantes da indústria cinematográfica no Conselho
Superior do Cinema, órgão responsável por elaborar a política nacional para o
setor.
O texto reduz de seis para três o número de representantes do setor.
Também reduz a participação da sociedade civil no colegiado: de três para dois
representantes. Os integrantes do conselho não recebem salário.
Agora, o governo terá maioria na composição do conselho: serão sete
ministros, e cinco integrantes do setor e da sociedade civil.
A mudança, por meio decreto, foi publicada na edição desta
sexta-feira (19) do "Diário Oficial da União".
No mesmo decreto, Bolsonaro decidiu transferir o
conselho do Ministério da Cidadania, que engloba a antiga pasta da Cultura,
para a Casa Civil da Presidência da República, chefiada pelo ministro Onyx
Lorenzoni. A mudança já
havia sido anunciada nesta quinta (18).
O conselho, criado em 2001, é responsável por
formular a política nacional de cinema, aprovar diretrizes para o
desenvolvimento da indústria audiovisual e estimular a presença do conteúdo
brasileiro no mercado.
Com as mudanças promovidas por Bolsonaro, caberá a
Onyx indicar para o conselho os representantes da indústria e da sociedade
civil. Os nomeados para o colegiado continuarão com mandatos de dois anos, com
uma recondução permitida.
O governo é representado pelos ministros:
·
Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, que
o presidirá;
·
Sérgio Moro, da Justiça e
Segurança Pública;
·
Ernesto Araújo, das Relações
Exteriores;
·
Abraham Weintraub, da Educação;
·
Osmar Terra, da Cidadania;
·
Marcos Pontes, da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações; e
·
Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de
Governo da Presidência da República.
Quando o conselho foi criado, integravam o conselho
os ministros da Casa Civil; da Justiça; das Relações Exteriores; da Fazenda; da
Cultura; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; das Comunicações;
da Educação; e da Secretaria de Comunicação Social.
Ancine
Nesta quinta, Bolsonaro afirmou durante evento em
alusão aos 200 dias de governo que pretende transferir a Agência Nacional do Cinema (Ancine) do
Rio de Janeiro para Brasília.
Ele admitiu que a possível mudança se daria para
que o governo impusesse um maior controle sobre a aprovação de filmes, séries e
documentários. Integrantes do governo informaram ao colunista do G1Matheus
Leitão que as mudanças foram decididas como uma reação a projetos aprovados sobre
homossexuais e transexuais, o que incomoda a agenda conservadora da gestão.
“Com o Osmar Terra [ministro da Cidadania] fomos
para um canto e nos acertamos. Eu não posso admitir que com o dinheiro público
se faça filmes como da Bruna Surfistinha. Não dá", disse Bolsonaro na
cerimônia.
"[Osmar] apresentou propostas sobre a Ancine,
vamos trazer ela para Brasília. Não somos contra quem tem essa ou aquela opção.
Mas o ativismo que não podemos permitir, em respeito com as famílias. Uma coisa
que mudou com a chegada do governo”, afirmou o presidente.
"Bruna Surfistinha", de 2011,
foi baseado no livro best-seller da garota de programa Rachel Pacheco, sobre
sua história. O filme estrelado por Deborah Secco teve mais de 2 milhões de
espectadores. O filme foi aprovado em 2007 pelo Ministério da Cultura para
captar verba por renúncia fiscal, por meio da Lei Rouanet.
Os projetos contemplados pele lei não são
financiados com recursos públicos do governo, e sim com dinheiro privado de
empresas interessadas em apoiar os projetos.
Funciona assim:
·
O governo federal analisa os projetos para decidir
quais poderão ser contemplados pela lei;
·
ao ter seu projeto aprovado pelo ministério, o
produtor cultural sai em busca de patrocínio para obter os recursos;
·
pessoas físicas ou empresas podem decidir
patrocinar o projeto. Em troca, elas recebem possibilidade de abatimento no
Imposto de Renda de parte ou do total do valor aplicado no projeto.
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