Flávio Bolsonaro tem pedido aceito e Toffoli suspende investigações com dados do Coaf
Decisão se refere a processos judiciais em que dados bancários tenham sido compartilhados sem aval prévio do Judiciário e pode beneficiar senador em ações na Justiça do Rio.
O presidente do
Supremo Tribunal Federal ( STF ),
ministro Dias
Toffoli , determinou nesta terça-feira a suspensão de
todos os processos judiciais em que dados bancários de investigados tenham sido
compartilhados por órgãos de controle sem autorização prévia do Poder
Judiciário. A decisão foi dada em resposta a um pedido do senadorFlávio Bolsonaro (PSL-RJ)
e pode beneficiá-lo em
investigações que tramitam contra ele na Justiça do Rio de
Janeiro.
Além de paralisar processos judiciais em andamento, Toffoli mandou suspender
inquéritos e procedimentos de investigação criminais (PICs) em tramitação tanto
no Ministério Público Federal quanto nos Ministérios Públicos estaduais e no Distrito
Federal. O presidente do STF classificou como “temerária” a atuação do MP em
casos envolvendo o compartilhamento de informações fiscais sem a supervisão da
Justiça.
Flávio Bolsonaro é
investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) no inquérito que
apura o suposto
desvio de dinheiro em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa
do Rio de Janeiro (Alerj). O desvio, segundo as investigações, ocorreria a
partir da arrecadação ilícita de parte dos salários de servidores lotados no
gabinete do então deputado estadual. Flávio Bolsonaro nega seu envolvimento no
caso.
A suposta arrecadação
teria sido detectada em relatórios do Conselho de Administração de Atividades
Financeiras (Coaf). A defesa de Flávio argumentou ao STF que a
investigação conduzida pelo MPRJ teria irregularidades porque o repasse de
dados do Coaf ao MPRJ não teria sido intermediado pela Justiça.
"Considerando que o Ministério Público vem promovendo
procedimentos de investigação criminal (PIC), sem supervisão judicial, o que é
de todo temerário do ponto de vista das garantias constitucionais que assistem
a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, revela-se
prudente ainda suspender esses procedimentos", disse Toffoli, em sua
decisão.
O ministro embasou sua decisão no fato de que a legalidade do
compartilhamento de informações nesses moldes é tema de um
processo, cujo julgamento de mérito está marcado para novembro, que tem
"repercussão geral" na Corte. Isso significa que a decisão do
Supremo valerá para todo o Judiciário. Nesses casos, é de praxe que todas
as matérias que tratam do assunto fiquem suspensas.
A decisão de Toffoli
acontece após diversas tentativas da defesa de Flávio Bolsonaro para alterar o
curso das investigações que tramitam contra ele no Rio de Janeiro. Em fevereiro
deste ano, ele recorreu ao STF argumentando que, por ser senador a República e
ter foro privilegiado, o caso deveria ser investigado junto ao Supremo. O
ministro do STF, Marco Aurélio Mello, negou o pedido. Em junho, o desembargador
do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro Antônio Carlos Nascimento Amado negou
um pedido da defesa de Flávio que pedia a suspensão da quebra
de seu sigilo fiscal e bancário, decretada em abril .
Investigadores do
caso junto ao Ministério Público do Rio explicaram ao GLOBO que a decisão de
Toffoli se refere a um processo de 2017, cujo recurso será julgado em novembro.
O MP diz não ter recebido nenhuma notificação oficial do STF ainda sobre o
alcance da decisão diante das investigações sobre Flávio Bolsonaro.
— Nunca vi nada
parecido antes. Nunca vi uma decisão de repercussão geral para suspender
investigações de forma generalizada em todo o país. Acredito que como já temos
decisão judicial no caso é difícil que a decisão alcance essa investigação —
afirma um dos investigadores.
95 alvos
As quebras de sigilo
bancário e fiscal no âmbito da investigação tiveram como alvos 95 personagens,
dentre ex-funcionários do gabinete de Flávio e pessoas que
participaram de transações imobiliárias com ele . As suspeitas
do Ministério Público no caso são do crime de peculato, por meio da devolução
dos salários dos funcionários do seu gabinete, lavagem de dinheiro e
organização criminosa.
As investigações do
MPRJ apontaram que o esquema de desvio de recursos no gabinete de Flávio
Bolsonaro na Alerj seria operado pelo ex-assessor do então deputado Fabrício
Queiroz, que é policial militar reformado. Ao MPRJ, Queiroz admitiu que
repassa parte dos salários de servidores lotados no gabinete de Flávio
Bolsonaro a outras pessoas que trabalhassem, ainda que informalmente, para o
parlamentar. A ideia, segundo ele, era ampliar a base de pessoas a serviço do
então deputado. Queiroz disse que o parlamentar não tinha conhecimento do
esquema.
Os promotores
chegaram a apontar que há indícios do
funcionamento de uma “organização criminosa” no gabinete de Flávio na Alerj
desde 2007 . As quebras de sigilo foram reveladas pelo GLOBO. A
assessoria de Flávio Bolsonaro classificou a ação do MP como “campanha
caluniosa”. O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o filho era perseguido pelo
MP e apontou que o objetivo das investigações seria derrubá-lo.
O senador empregou
nove parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro, no
período em que foi deputado estadual. A maioria deles vive em Resende, no Sul
do estado do Rio e todos tiveram o
sigilo fiscal e bancário quebrado por decisão do Tribunal
de Justiça do Rio. Ao menos quatro deles têm dificuldades para comprovar que,
de fato, assessoraram Flávio. Eles recebiam salário, masnão
tinham crachá e ficavam longe da Alerj . O senador disse, na
ocasião, que os parentes de Ana Cristina foram nomeados porque eram
“qualificados para as funções que exerciam”.
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