Na América Latina a fome se espalha e atinge 42,5 milhões de pessoas
Segundo a ONU, um dos fatores que colaboraram para esse crescimento é auto índice de desemprego, o que faz cair às receitas familiares e aumenta a pobreza.
Número de pessoas que passam fome na América Latina e no Caribe aumentou
Shiraaz Mohamed/EFE - 24.9.2015 |
O número de pessoas atingidas pela fome na
América Latina e no Caribe cresceu em 2018 pelo terceiro ano consecutivo e já
afeta 42,5 milhões de pessoas, em parte pela desaceleração econômica e pela
situação na Venezuela, segundo destacou a ONU em relatório divulgado nesta
segunda-feira (15).
De acordo com o
documento sobre o estado mundial da segurança alimentar e da nutrição apresentado
hoje por cinco agências da ONU, a porcentagem de pessoas que passam fome na
região aumentou de 6,2% da população em 2015 para 6,5% em 2017, um nível que se
manteve em 2018.
A
principal razão para esse aumento está na América do Sul, onde vive a maioria
das pessoas desnutridas da região e onde a prevalência de subalimentação subiu
de 4,6% em 2013 para 5,5% em 2017.
O arrefecimento e a recessão observada
entre 2012 e 2016 nas economias da região estão associadas ao declive dos
preços internacionais das matérias-primas que exportam em um contexto de frágil
recuperação da crise financeira global.
O diretor-adjunto de
Economia do Desenvolvimento Agrícola da Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO), Marco Sánchez Cantillo, afirmou à agência EFE que,
em vista da desaceleração e da dependência do comércio desses produtos,
"os ingressos fiscais diminuíram fortemente".
"A tendência a
implementar programas sociais, que vinham incidindo na redução da fome há até
três anos, foi altamente afetada", especificou.
O desemprego
aumentou, as receitas familiares caíram e o número de pobres passou de 166
milhões para 175 milhões entre 2013 e 2015 após anos de queda na região,
segundo o relatório.
A crise na
Venezuela também explica o aumento da fome na América
do Sul, pois a proporção de pessoas que não têm o que comer quase multiplicou
por quatro, de 6,2% entre 2012 e 2014 para 21,2% entre 2016 e 2018, chegando a
6,8 milhões de venezuelanos.
Em nível
sub-regional, os maiores índices da fome ocorreram no Caribe, onde esse
problema afetou no ano passado 18,4% da população (7,8 milhões de indivíduos),
e na América Central, com 6,1% (11 milhões no total), embora ambas as taxas
tenham caído com relação a 2010.
Cantillo ressaltou
que nessa última região há fatores variados como a seca no Corredor Seco,
outros impactos climáticos e a migração.
Em relação ao futuro,
o especialista advertiu que a perspectiva econômica em nível global "não é
a melhor" e é agravada pelas tensões comerciais, o que pode refletir na
América Central e no Caribe pelos seus vínculos com América do Norte.
Por outro lado, o
relatório indica que a obesidade na América Latina e no Caribe cresceu de 21,7%
da população adulta em 2012 para 24,1% em 2016, até 104,7 milhões de pessoas,
em linha com as altas registradas em nível global.
No total, 821,6
milhões de pessoas ainda passavam fome em 2018 no mundo, um número que aumentou
pelo terceiro ano consecutivo em parte pela frágil recuperação da última grande
crise econômica, segundo a ONU.
Dos 77 países que
experimentaram um aumento da desnutrição entre 2011 e 2017, 65 sofreram uma
desaceleração ou uma contração de suas economias de maneira simultânea e, entre
estes, 52 dependiam altamente do comércio de produtos básicos e do vaivém dos
preços.
Os choques econômicos
agravaram, além disso, o impacto de conflitos climáticos extremos e eventos
como a seca em metade dos países afetados por crises agudas de alimentos,
afetando 96 milhões de pessoas em 2018.
Das mais de 820
milhões de pessoas com fome, 513,9 milhões estão na Ásia (11,3% da população),
256 milhões na África (19,9%) e 42,5 milhões (6,5%) na América Latina e no
Caribe.
A situação mais
alarmante está na África, onde a subalimentação cresceu em quase todas as
regiões, enquanto em países do Oriente Médio, como Síria e Iêmen, não para de
aumentar desde 2010.
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