Com previsão de derrota de Macri nas eleições, mercado reage em queda com desvalorização da moeda argentina
Para conter queda no mercado, argentinos vendem mais de US$ 100 milhões e sobe juros a 74%.
No domingo, o presidente Mauricio Macri foi derrotado com folga por chapa de Cristina Kirchner Foto: JUAN MABROMATA / AFP |
BUENOS
AIRES e WASHINGTON — Em resposta à grande derrota sofrida pelo
presidente Maurício
Macri no domingo, em eleições primárias que funcionaram
como uma prévia da disputa presidencial de 27 de outubro, os títulos da dívida
e ações de empresas argentinas registraram quedas de dois dígitos na abertura
dos mercados nesta segunda-feira. O peso argentino chegou a cair 30% em relação
à moeda americana, cuja cotação passou a 60 pesos por dólar, levando alguns
bancos privados a suspenderem operações de câmbio.
No início
da tarde, o dólar estava cotado a 58 pesos e a bolsa de Buenos Aires operava
com queda de 31,8%. Para tentar conter a desvalorização do peso, o Banco
Central aumentou a taxa de juros básica para 74% e anunciou o leilão de US$ 100
milhões.
Os números
anteciparam uma preocupação dos mercados com a política econômica que poderá
ser adotada caso a chapa formada por Alberto Fernández e a
ex-presidente e atual senadora Cristina
Kirchner , que teve mais votos nas primárias, saia
vitoriosa das eleições de outubro.
Os
títulos da dívida e as ações argentinas em Wall Street tiveram uma queda de
dois dígitos. Os títulos de 100 anos, promovidos pelo governo como um sucesso e
um suposto sinal da recuperação argentina, caíram 14%, enquanto outros papéis
caíram até 20%.
Todos as
empresas argentinas listadas na Bolsa de Nova York tiveram queda, em especial
as dos setores bancário e de energia — a Loma Negra, mais afetada, chegou a ter
perdas de 61,57%. Os títulos do Banco Galícia, que haviam registrado ganhos de
mais de 9% na sexta-feira, quando três pesquisas com resultados favoráveis ao
governo incentivaram os investidores a comprar ativos, chegaram a cair 35%. As
ações da Pampa Energia caíram 43% e as da petrolífera YPF, 36,7%.
Macri foi eleito em 2015 com a promessa de liberalizar a
economia argentina, prometendo acabar com o intervenções do Estado
promovidas por Cristina Kirchner (2007-2015), em especial no seu segundo
mandato. Ele liberou o câmbio e retirou os subsídios que mantinham baixos os
preços de serviços como gás e eletricidade. Mas, ao contrário do resultado que
esperava inicialmente, a inflação continuou a subir e os investimentos estrangeiros não compareceram em
volume suficiente.
Há cerca
de um ano, sem dinheiro para pagar a dívida pública, Macri fechou um acordo com
o Fundo Monetário Internacional ( FMI )
de US$ 50 bilhões, o maior empréstimo já concedido na História do organismo, e,
mesmo assim, não conseguiu acalmar a economia. Na manhã desta segunda, enquanto
os impactos de sua vitória nas prévias eleitorais começaram a vir à tona,
Alberto Fernández disse que a política econômica de Macri enganava os mercados.
— Os
mercados reagem mal quando percebem que foram enganados. E, na verdade, o
governo os conduziu a esse estado de coisas com o festival de títulos que
emitiu, com a crise da dívida — disse Fernández, em declarações à Rádio
10.
Em seguida,
o candidato à Presidência chamou o modelo econômico de Macri de
"fictício", afirmando que seus resultados começam a ser sentidos na
Argentina.
— O
presidente teria que se concentrar em trazer paz de espírito. Os mercados
alertam que o governo entrou em um cenário em que não pode responder. Isso tem
que ser resolvido pelo governo: nós alertamos que estávamos vivendo em uma
economia fictícia e agora, infelizmente, o que dissemos começa a ser
comprovado.
Um
informe do banco de investimento JP Morgan indicava, nesta manhã, que com a
provável vitória em primeiro turno da chapa de oposição em outubro, a chance de
uma "descontinuidade das políticas" econômicas de Macri é muito
maior. "A pressão sobre os mercados financeiros vai aumentar devido a uma
probabilidade maior da descontinuidade das políticas", disse o relatório.
Nesta manhã, Macri reuniu-se na
Casa Rosada com o presidente do Banco Central, Guido Sandleris, o ministro da
Fazenda, Nicolás Dujovne, e seu chefe de Gabinete, Marcos Peña, para discutir
os impactos do resultado das prévias na economia argentina.
As primárias de domingo funcionaram como uma megapesquisa das
eleições presidenciais de 27 de outubro. Como não havia disputa interna nos
partidos, o importante era saber que proporção de eleitores votaria em cada
chapa. Com 99,37% das urnas apuradas, Alberto Fernández, que tem a
ex-presidente e senadora Cristina Kirchner como vice, teve 47,66% dos votos.
Macri, candidato à reeleição, recebeu 32,08% dos votos, uma diferença de menos
15 pontos percentuais. Na Argentina, para vencer no primeiro turno é necessário
ter 45% dos votos ou 40% com uma diferença de ao menos 10 pontos sobre o
segundo colocado.
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