Veja os detalhes da delação de Palocci a Polícia Federal
Ex-ministro delatou 12 políticos e 16 empresas em transações suspeitas de mais de R$ 330 milhões – grande parte ao PT
Segredos - O ex-ministro Antonio Palocci já redigiu mais de quarenta anexos com suas revelações (Wilson Pedrosa/Estadão Conteúdo) |
No acordo de delação premiada que firmou com a
Polícia Federal, o ex-ministro Antonio Palocci envolveu 12
políticos e 16 empresas em transações supostamente criminosas
que chegam a mais de 330 milhões de reais — boa parte pagamento de propinas ao PT e a parlamentares. O blog Radar teve acesso a um documento
de oito páginas do Supremo Tribunal Federal que confere contornos mais
palpáveis à principal frente da delação de Palocci, que cumpre em casa e com
tornozeleira eletrônica sua condenação por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro. Desde o início, a delação de Palocci causou desconfiança pela falta
de comprovações sobre o que era dito. Essa era também a avaliação de
procuradores de Lava Jato e do então juiz Sergio Moro, como veio à tona em diálogos
vazados do Telegram.
O acordo foi homologado pelo ministro Edson Fachin,
relator da operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. Ele determinou o
envio de 22 dos 23 anexos de Palocci a quatro
estados: São Paulo, Distrito Federal, Paraná e Rio de Janeiro.
A lista de exemplos envolvendo repasses a campanhas petistas e
interesses de empresários é grande, como mostra uma série de publicações do
blog Radar nesta quarta-feira, 14. A delação de Palocci não deixa dúvidas:
todas as eleições de Lula e Dilma foram financiadas com recursos irregulares de
empresas — o que a Lava-Jato já comprovou de diversas formas, é verdade.
Desde que a Justiça
homologou a delação de Palocci em três frentes – no Tribunal Regional Federal
da 4ª Região, na Justiça Federal de Brasília e no Supremo – os investigadores
da Polícia Federal realizam diligências sigilosas e produzem provas para
confirmar os relatos do petista, de modo a marcar uma diferença de “qualidade”
no trabalho realizado pela PGR em delações anteriores. É por causa disso que,
apesar de Fachin delegar aos juízes locais a retirada do sigilo da delação, o
conteúdo continua fechado.
Entre os detalhes que o Radar
revela, Palocci afirmou que apenas o PT recebeu para suas campanhas eleitorais 270,5
milhões de reais, entre 2002 e
2014. Foram doações, parte declarada e outra não, de grandes grupos e empresas
em troca de favores recebidos, afirma o ex-petista. Palocci associa cada
doação a um benefício específico que, segundo ele, teria sido alcançado por
determinada empresa. Boa parte dessas negociações era realizada por Palocci em
sintonia com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari.
O ex-ministro também detalha
as negociatas que levaram empresas a destinares recursos a
políticos petistas. Nos casos das campanhas presidenciais de Lula e Dilma, são diversos
os pedidos dos empresários em troca do apoio financeiro às tentativas de
eleições e reeleições da dupla. Para o empresário, o benefício alcançado
varia de menor tributação para um setor específico, obtenção de alguma linha de
crédito no BNDES para essas empresas a auxílio em fusão de grupos de um mesmo
setor a apoio da base governistas a medidas que tramitavam no Congresso.
Há a história
bombástica, revelada
por VEJA em 2017, de que Lula foi eleito com uma bolada milionária
repassada pelo ditador Muamar Kadafi, líder líbio morto em 2011. Segundo o
petista, Kadafi deu 1 milhão de dólares, o equivalente a 3,5 milhões de reais à
campanha do petista em 2002.
O ex-ministro narra a
operação petista, também revelada por VEJA em
2017, para sepultar a Operação Castelo de Areia no Superior Tribunal
de Justiça que rendeu 50 milhões de reais em propinas pagas pela Camargo Corrêa
na forma de doação eleitoral para Dilma Rousseff em 2010 e políticos petistas,
como Gleisi Hoffmann, atual presidente nacional do PT.
Palocci contou que ela recebeu
de três empreiteiras 3,8 milhões de reais na campanha de 2010,
quando se elegeu senadora pelo Paraná. Como VEJA
revelou em 2017, quando o ministro ainda negociava uma possível
delação com a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, a empreiteira Camargo
Corrêa repassou 1 milhão de reais a Gleisi como parte de um acordo para
sepultar a Operação Castelo de Areia no STJ.
Palocci
também contou à Polícia Federal repasses milionários, na forma de
doações oficiais e via caixa dois na campanha de 2010, para os petistas
Fernando Pimentel e Tião Viana, que governaram Minas Gerais e o Acre,
respectivamente, e para o ex-senador Lindbergh Farias.
O ex-ministro ainda
detalha como a Odebrecht repassou 50
milhões de reais ao PT em troca de vantagens no Programa de Desenvolvimento de
Submarino (Prosub). O episódio já foi narrado por Marcelo
Odebrecht na delação da empreiteira. A bolada milionária foi repassada à
campanha de Dilma em 2014. O dinheiro era para que as liberações de dinheiro do
governo no contrato de construção dos submarinos não parassem.
O Radar também mostra que Palocci confirma o repasse
de recursos pela empresa Qualicorp ao PT, ao Instituto Lula e a
Touchdown, de Luis Cláudio Lula da Silva, 30 anos, filho caçula do
ex-presidente Lula. Os pagamentos, segundo o ex-ministro, teriam sido feitos em
troca de “benefícios concedidos pelo governo” à empresa na Agência Nacional de
Saúde Suplementar. No trecho obtido pelo Radar, não há, porém, valores
descritos.
Em março, a Polícia
Federal indiciou Lula e o filho Luís Cláudio pelos crimes de lavagem de
dinheiro e tráfico de influência por pagamentos para relacionados à empresa de
marketing esportivo. A Touchdown passou a ser investigada em 2017, com as
delações da Odebrecht na Lava Jato. A investigação descobriu que, ao longo dos
anos, a empresa, que tinha capital social de 1 mil reais, recebeu mais de 10
milhões de reais de patrocinadores.
Sobre a delação de
Palocci, a Qualicorp enviou a seguinte nota ao Radar: “A
Qualicorp é uma companhia de capital aberto, com milhares de acionistas
nacionais e internacionais, e todos os seus contratos são auditados por
empresas renomadas. Sua atividade é exclusivamente privada e depende da
contratação voluntária de cada cliente de plano de saúde. A empresa nunca
pleiteou ou obteve qualquer tipo de benefício público e jamais transgrediu a
lei. A companhia não comentará supostas acusações do ex-ministro, que foram
rejeitadas pelo Ministério Público Federal por ausência de base fática.” O
Radar tenta contato com o filho de Lula.
Nenhum comentário